sexta-feira, 17 de abril de 2009

out of the box

Um ano de Argélia está quase a chegar. As broas estão com um pouco de bolôr. Sintoma de um estado de espírito cansado. Pelo meio vão acontecendo coisas boas. Pequenas vitórias profissionais e pessoais, pequenas conquistas pessoais. Se olhar para tudo isto de um plano mais elevado e de significado a longo prazo, essas mesmas conquistas, elevam-se a um plano inconcebível se há um ano atrás pensasse nelas . Por isso continuo, persisto, insisto e vou prevalecendo. Períodos mais complicados, outros nem tanto. Por motivos pelos quais a minha saúde pessoal foi afectada estes últimos 5 meses foram sem dúvida os mais difíceis.
Iria lá eu pensar há um ano atrás que o factor mais complicado de toda esta equação seria de facto a convivência com a cultura japonesa. Não é seguramente a cultura muçulmana aqui encontrada, num país que baila na fronteira do fundamentalismo. Também não o é o convívio com estas gentes, que dentro das diferenças têm imenso em comum connosco. Na maneira de ser, de tratar, de brincar com as situações e com a vida. Um Argelino amigo é um bom amigo. Nunca poderia é prever que a cultura japonesa seria assim. Fechada, orgulhosa, autoritária. Sem o dom de saber escutar e aprender com as outras peossoas e as suas experiências. Pessoas que baixam a cabeça quando passam por mim, porque durante meses a fio lhes garanti um trabalho difícil. Executado, posso dizer, com uma precisão quase impossível de atingir. Esforços de trabalho de carga horária entre as 14 a 16 horas diárias. Um tipo de trabalho, que embora relacionado com o que vim para aqui fazer, não era a minha função. Comecei a fazê-lo sozinho para os ajuadar a perceber como se faz. E foram-me deixando, calados, sem nunca me darem oportunidade de o passar a outra pessoa. Até que um dia bati com a mão na mesa. E refutei a minha responsabilidade. As pessoas que deveriam tomar este trabalho em mãos nem sequer apareciam. Fui depois chamado a uma reunião na sala da administração com direito a tradutor e questionado porque lhes dizia que não era responsável, estragando assim o espírito de equipa. Fiz-lhes ver que não havia equipa. A equipa era eu. Pediram-me para continuar a fazê-lo, pois assim sendo não teriam ninguém capaz. Não podem imaginar a tensão de trabalhar com pessoas assim. Que não falam do que se passa, do que se vai passar. Que mantém as pessoas no escuro de qualquer tipo de decisão. Trabalha-se no escuro. Ninguém sente espírito de equipa. Muitas das melhores pessoas que por aqui passaram, já não voltaram. Filipinos, malaios, argelinos, egípcios. Pessoas tratadas abaixo de cão, com berros e injustiças. Tudo isto porque não são da raça superior japonesa. Por ser Europeu, não sou assim tratado. Mas estou cansado, da incompetência, do racismo, do desperdíco de dinheiro que vejo todos os dias. Num país onde há muita gente a viver em condições que nós consideramos sub-humanas e onde a própria entidade fiscalizadora nacional faz o desperdício ser maior.
Sinto falta dos amigos, dos jantares, dos concertos, beber um copo. Cinema, concerto, exposição. Passeios, cafés, chás. Sol, praia... Sinto falta da minha família e do meu cão. Sinto falta de mim próprio, por estar num sítio onde não posso ser inteiramente eu.

Coming out of the box! Mas desta vez quando voltar, tenho que ter mais armas para continuar a lutar.

6 comentários:

Artes da Yolita disse...

Transpareceste mesmo impotência. E não é só por uma pessoa espairecer que as situações mudam ou coisa do género, mas enfim.... Tu stay cool, as always. Bêjus

catizzz disse...

Pois eu diria que transpareces força e sabedoria. Consciente e activo na tua realidade mas mantendo o distanciamento necessário para saberes a quantas andas. Não se trata do que a vida nos oferece mas sim da forma como o vivemos.
Tás quase lá!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bjs e saudades

Maktub disse...

Fumo um beedie, oferecido no último jantar no indiana. O cheiro a folha de tabaco apaga-se a meio. Acendo-o outra vez.

Partimos à procura de respostas. Encontramos respostas e novas incertezas. Era isto que queríamos?

Não sabemos... A certeza, apenas que tentámos. As perguntas continuam lá. A algumas respondemos. Outras ficam por responder. Outras surgiram. Nunca tinhamos pensado nelas...

Um cigarro que se acende e apaga. Queremos fumar?

Fumamos porqe o vício nos pede. Fumamos o que gostamos. O que temos no momento. A pedirmos as respostas no fumo que se evolata no ar...

Olhamos para os sinais de fumo e interpretamos como se sinais de perigo se tratassem. E esquecemos o essencial. O que nos levou ali...

Seja o que for que te tenha levado até aí, foi importante, não o esqueças.

E o cigarro apaga-se quando o quisermos...

Jakk disse...

Estou aqui a dar voltas à cabeça! Who's Maktub?? Not new...hmmmm ~:)

Anónimo disse...

Acho que estás neste preciso momento a juntar armas para voltar. É o teu balão de oxigénio, por isso aproveita a escapadinha a Lisboa. Quando voltares pensas como e o que farás. Mas já pelo menos já sabes com o que podes contar dessa malta...Bjs. JB

Maktub disse...

Bem, a Maktub sou eu. ( E eu sei que tu sabes quem sou.) E isso que interessa?

O importante permanece. Naquilo que procuramos. Encontramos?

Um abraço! E que no avesso do sentido, lá esteja.... Seja lá o que for isso for..