segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

DUALIDADES

Um pasto verde, um rebanho de ovelhas. A 20 metros o pastor, a seu lado o bode, o macho do rebanho. Tresviado, a cerca de 4 metros do seu guardião. O pastor, um míudo, talvez com 14 15 anos. O bode aproxima-se dele lentamente, passando por ele com um ar jocoso. Nesse momento o miúdo levanta a perna e passa-a por cima dele, sem o aleijar...uma brincadeira...uma dança... O bode acelera em duas passadas e dá meia volta, num pulo, atira-se sobre o seu guardião...sem malícia...como uma investida...mas carinhosa...uma brincadeira...o miúdo ri-se...eu a passar de carro, levanto o meu polegar na sua direcção...e sorrio!
Impressionante...estes pequenos pormenores não deixam de me encantar...segundos...que valem horas...
São estas pequenas coisas, que me vão dando alento para acreditar na mudança que é possível nesta sociedade e para continuar neste projecto. Que se pode acreditar.
Nos últimos tempos, feitos quase oito meses que por aqui ando, estreitei laços com estas gentes. Tenho hoje a certeza que um Argelino que é teu amigo, o é incondicionalmente. Estará lá para ti quando mais precisares. Apesar de todas as diferenças sociais, culturais e religiosas têm uma maneira de ser muito parecida connosco. Somos vizinhos, povos mediterrânicos.
Estranho este país, cheio de códigos. Aqui existe tudo, arranja-se tudo. Mulheres, álcool, drogas e tudo mais que possam pensar. Mas não do pé para a mão, tem que se conhecer e confiar... A hipocrisisa reina, pelo peso da religião. a conhecida frase que diz que a religião é o ópio do povo, aqui faz todo o sentido.
Por aqui existem homens com amantes, mantidas fechadas em apartamentos, que quando saem da linha são decapitadas e no jornal diz-se que o terrorismo anda activo. Temos professores universitários, que trocam boas notas por sexo com as alunas ou por troca com uma noite de sexo com um dos seus amigos. Temos raparigas jovens universitárias que, por vontade do pai, ficam seis meses sem porem um pé na rua. Temos jovens que engravidam raparigas, cobertos de um nome e morada falsa, que nunca chegam a cumprir as suas responsabilidades. Marcando o seu destino para sempre como lavadoras de escadas e mulheres para sempre proscritas da sociedade. E temos amizade, respeito e outros valores que se estimam como os mais altos de uma sociedade evoluída. Temos um empregado de um café ou membro da CAD Design Team a perguntar-me pela Europa, Como se vive, como se respira a Liberdade. Temos um empregado de um restaurante a fazer-me a mesma pergunta, a pedir-me uma garrafa de whisky velho da Europa. Ao mesmo tempo que tira as colheres e copos onde vão ser servidos os nossos cafés, da mão de outro empregado para as lavar melhor, saiba-se lá porquê tem uma noção de que os nossos hábitos higienicos são diferentes.
Aqui temos um projecto japonês. Se se pensa que quem não vê caras não vê corações, pense-se tambem que vê-las não significa um vislumbre de um coração. Temos japoneses que fazem contratos a filipinos de um anos com 14 dias de férias, que incluem já quatro dias de viagens de ida e volta. Temos japoneses que gritam com os mesmos por quererem gozar o feriado no dia 25, dia especial para a fé cristã. Temos japoneses que escondem o jogo, que não revelam nada. Que não fazem as pessoas sentirem-se parte de um projecto, desanimando-as mais e mais a cada dia que passa. Temos abuso de autoridade, uma falta de capacidade de resolver situações homem a homem, olhos nos olhos. Temos reuniões em salas de admnistração com tradutores porque os fazemos notar que estamos a fazer o trabalho deles, sem apoio dos mesmos. Ainda por cima tratando-se de um dos trabalhos mais difícieis e com maior valor monetário neste tipo de construção. Temos horas a fio de trabalho incansável, que não seríamos obrigados a fazer, sem um sorriso ou um obrigado. Aqui temos reconhecimento tardio, mas realmente definitivo. Temos agradecimentos feitos de uma outra forma, vindos de uma cultura completamente diferente...imaginavelmente diferente...Temos apoio e prémios que chegam de outra forma e noutros timings. Temos uma das mais estranhas formas de viver...na mais improvável das equações... um português...a trabalhar para uma empresa espanhola...para os japoneses...na Argélia...

E o que poderia ser melhor...para encararmos as nossas próprias dualidades...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

E de repente

tudo faz sentido...
Onde estou...
Com quem estou...

Batalha ganha!
Samurai respect!
Ah! Mas a guerra continua...

Sinto o peso de toda a cultura portuguesa...de conquistador, que se deixa conquistar! De quem tem tudo, mas que se perde pelo prazer de conviver com outras culturas! Pelos cheiros, sabores, cores...pela beleza de uma mulher, por direitos de liberdade, por expressão de invidualidade...
É engraçado, um sentimento que já se vinha a construir, obviamente por estar longe...de orgulho de ser português...de criar afinidades...de me tratarem de uma maneira...por ser respeitado por ter respeito...por apreciar e retribuir pelas coisas mais pequenas, que no fundo são as mais importantes...






quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Algérie

Já viajei um pouco por este país. Resido no interior, onde o islamismo é mais cerrado, mas por duas vezes já me desloquei a duas cidades onde a mentalidade é um pouco diferente. Annaba e Bejaia, onde existem discotecas e bares, que são mais dedicados à prostituição que propriamente a um convívio entre sexos. Vi mulheres a fumar, mulheres sem véu e com os cabelos ao vento. Vi mulheres numa esplanada de uma pizzaria ou de um café...
O que não vi nestes sete meses e meio e que realmente gostaria de ver...
É uma mulher a caminhar na rua sozinha...com um sorriso nos lábios...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Welcome to Djemilla

Djemilla, nomeada património da Humanidade pela UNESCO. Uma das mais bem conservadas, senão a mais bem conservada das ruínas Romanas existentes. Com 1200m2 de mosaico reconstruídos e preservados. Não foi possível fotografar os mais impressionantes, pois essa parte está num museu no qual é proibido fotografar. Cidade construída entre 50 D.C. e 350 D.C., foi sendo descoberta entre a 1º e 5ª década do século passado. Depois da partida dos franceses acabaram as escavações. Não tenho muitas palavras acerca desta visita. Simplesmente deslumbrante. Ficam as imagens, uma pequena amostra das que tenho. Djemilla significa "A Mais Bela".





































domingo, 7 de dezembro de 2008

Kill the lamb

Amanhã é dia de festa nos países muçulmanos. É o l'Aid. Tem a mesma importância que o Natal para nós que somos de origens cristãs.
Todas as famílias matam um borrego ou uma ovelha... Segundo a tradição deverá ser dividida igualmente em três partes iguais. Uma para comer com os amigos, uma para comer com a família e a terceira para dar aos pobres.
O sacrifício do "mouton"!
Este sacríficio vem do Antigo Testamento. Abraão, nos seus sonhos recebeu a mensagem que deveria sacrificar o seu filho bébé ao Deus. No momento em que se preparava para o degolar, abriu-se o céu...
Descendo iluminado do céu vinha o Arcanjo Gabriel, com uma ovelha em suas mãos. Ofereceu-a a Abraão, para a sacrificar em vez d
o seu filho...

domingo, 30 de novembro de 2008

Mesmo aqui ao lado

A convite de alguém muito especial, fui escrever mesmo aqui ao lado.
Fica o link, oportunidade também para apresentar outro sítio interessante:
Cat's jukebox!!


http://catsjukebox.blogspot.com/2008/11/e-porque-jukeboxes-h-muitas-time.html

Senão nos conhecessemos, não precisávamos de ser apresentados :)

domingo, 23 de novembro de 2008

Encerrado para férias


BOM DIA!!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Atestado de residência provisório

Faz duas semanas, desloquei-me à esquadra da Polícia de Tadjenanet, para tratar do meu atestado de residência provisório. Fui com uma funcionária argelina da administração (mulher mais linda, mistura de árabe com África negra) , um japonês e um filipino.
Entrámos na esquadra, indicaram-nos o caminho para o 2º andar, para uma sala onde estavam dois agentes para nos receber. Um a um foi-nos perguntado as informações contidas no passaporte. Depois assinei 5 papeis em Árabe e depositei a minha impressão digital noutros 5. Não sei o que assinei, nem perguntei, o meu visto estava caducado fazia 4 dias e precisava daquele pedacito de papel para sair daqui! Quando pedi um papel para limpar a tinta das mãos olharam para mim incrédulos! Pedi então para ir à casa de banho, mas aquela a qual podia ir estava ocupada. No entanto o ser Português aqui é uma clara vantagem sobre os asiáticos! O falar francês também!
Fui bem tratado, mas não sei o que assinei! Já não me preocupo com essas coisas! Afinal o mais importante é mesmo ter o papelinho que me permita sair daqui quando quiser! Embora recentemente tenha descoberto um outro imprevisto que me pode dificultar uma escapada de emergência. Não consigo levantar dinheiro com o Mastercard no Banco Nacional da Argélia! O único existente! Só nos grandes hoteis ou nas caixas Multibanco, que são praticamente inexistentes e que quando se encontram estão fora de serviço! Bem haja o telemóvel, pelo qual posso marcar um vôo e sair daqui em caso de emergência!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Banco Nacional da Argélia

Ontem tive que me deslocar ao banco!
Muito interessante, assina-se o documento da transacção pretendida, avançam com a caixinha de tinta de carimbo e bota lá a impressão digital!!!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Bejaia

Dia 1 vou até Bejaia, cidade costeira situada no Nordeste Argelino. Conhecida pelos seus bares e discotecas. Apesar de me deslocar em pleno Laid, dizem que estará tudo a funcionar.
Laid é a festa do pós-Ramadão, dura dois dias. será amanhã ou quarta que começa.
Os senhores vão hoje olhar para a Lua e decidir se amanhã já podem comer ou não!
Quando regressar, prometo descrição detalhada da viagem. Vai ser divertido, vou com uma escolta armada!!!!! This japs are crazy!!!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

TOP 3

Como já aqui estou há uns tempos e falei com certeza com mais de uma centena de argelinos, dou-me ao luxo de elaborar um top dos três portugueses mais conhecidos por estas bandas:

1º lugar: Cristiano Ronaldo

2ª lugar: Luís Figo

E num impressionante 3º lugar é com grande satisfação que anuncio, senhoras e senhores, meninos e meninas:

LINDA DE SUZA!!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

Liberdades

Como já referi em posts anteriores, perdi o meu motorista Nouredinne Sdrati. Personagem dos vídeos mais engraçados desta página. De 3 em 3 meses dá-se a rotatividade dos nossos "chauffers". Depois de fazer as minhas habituais pesquisas, tudo isto se deve ao facto de a admnistração não querer que se criem laços entre condutores e conduzidos. Uma pena, na realidade, e para quem realmente faz amigos o objectivo não se cumpre. Não só continuamos amigos do Nouredinne, como vamos sempre que podemos tomar um "tê" ou um "cahoir"( café - o h lê-se como um r não acentuado ). Amanhã vou-lhe emprestar a câmera fotográfica para tirar fotos dos seus filhos. Ofereci uma bicicleta à filhota de seis anos dele que foi a melhor aluna da 1ª classe da escola dela no ano lectivo passado. Outros presentes se seguirão. Quando somos afortunados com um bom salário ou qualquer tipo de riqueza, devemos partilhar com os que pouco têm. Penso que o dinheiro da bicicleta acabou por não ser para uma bicicleta. Terá sido sem dúvida para algo mais importante e de necessidade mais fremente. A sua família habita numa casa que partilha com o duas irmãs, uma casada, assim como com o seu pai. Ele tem um quarto na mesma, no qual co-habita com a mulher mais os três filhos. Não se consideram pobres. Tenho acompanhado a angústia dele no processo de candidatura a uma habitação social, na qual poderia viver só com os seus filhos e com a sua esposa. Já saiu a primeira lista de atribuições. O seu nome não constava da mesma. Nessa lista constava já outro Sdrati. Nunca duas pessoas da mesma família parecem na mesma lista, princípio igualitário deste governo Argelino. Não fosse o facto de o outro Sdrati ser irmão de outro Sdrati, o qual tem um bom cargo admnistrativo no Governo Local. Ça c'est la Algérie, l'Afrique, le Monde.
Agora ando com um bom rapaz, de 30 anos, que se chama Tarek Saf. Casado, com um pequeno filho e com o sonho de viver na Europa, onde já habita o seu irmão. Numa conversa de outro dia, falávamos do Ramadão, da vida, da Argélia...de tudo. Às tantas no meio da conversa, eu já gozava com ele a dizer para irmos beber uma cervejinha ao meu quarto e comer um belo naco de presunto. Fechávamos a porta e ninguém via. Rimo-nos os dois, isso seria impossível, muito mais sendo altura do Ramadão. Isso seria "aamar". Não sei se é assim que se escreve, mas não podia escrever só com um "a". Isto significa pecar. Às tantas diz-me que no fim de semana vai para uma barragem pescar. Passa lá todo o dia, apanha um peixe, tira-lhe o isco, volta a lançá-lo à água. Eu fiquei admirado, perguntei-lhe se não deveria passar o único dia de folga que tem com o seu pequeno filho e com a sua esposa. Ao que ele respondeu com um sorriso:
T: - C'est ça l'Álgérie!
J: - Então e a tua mulher?
T: - A minha mulher é livre...Senão "aamar", é livre.
J: - Então no fim de semana, está com a família, com os amigos...
T: - Amigos?? Amigos...não tem amigos?
J: - Não tem amigos????
T: - Não...vai ter com a família...
J: - Mas não pode ter amigos????
T: - Hmmm...não.... ( meio envergonhado, sorrindo ).
J: - Mas então que raio de liberdade é essa? " Mon ami, ça n'est pas être libre".
Sorriu, envergonhado, uma vez mais. eu sorri com ele abanando a cabeça a dizer que não. Seguimos em silêncio uns breves minutos...
J: "Tu aime ta femme?"
T: "Oui".
Sorrimos novamente, sem embaraço.
O irmão dele e a mãe vivem em Itália. Têm uma boa qualidade de vida lá. Andam a tentar arranjar um contrato de trabalho para ele conseguir um visto e assim se juntar a eles. Isto é um homem ao qual perguntei, que, se conseguisse ir para a Europa faria a mulher andar meia coberta. Ele respondeu que não.
Engraçado, no meu período de férias, apanhei só um pouco de um documentário que falava de uma mulher Argelina que tinha emigrado para França com o marido, penso que há mais de 20 anos. Essa mulher, divorciou-se, liberou-se e voltou à Argélia para ver como estavam as suas antigas colegas de escola. Do pouco que vi, registei uma que não podia sair de casa. quando o fazia sem o marido, não podia passar mais de 2 metros da porta de casa e não poderia lá permanecer mais de 30 a 60 segundos...
Aqui a PIDE são os vizinhos, as pessoas que comentam e desgraçam vidas só pelo facto de alguém andar de cabelo descoberto ou por ficar mais de um minuto à porta da sua própria casa. Isso desgraça o marido, os pais, os sogros, os irmãos e sabe-se lá quem mais. Mesmo com noções de justiça e liberdade... Não se pode permitir a vergonha do falatório alheio.

Censura

Não percebi ainda se foram os japoneses se é mesmo dos argelinos! Uma coisa é certa, links do youtube têm todos o mesmo resultado:
"This video is no longer available"
Vou investigar...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ponto de situação

Depois de quinze dias de férias, regressei a Tadjenanet, faz agora duas semanas. Cheguei doente e precisei de dois dias para me recompor. Prenúncio dos tempos difíceis que se aproximavam, os acontecimentos vão se sempre encaixando, por vezes só o vislumbramos ao olhar para trás.
A vida aqui ficou mais difícil. Nos quinze dias que estive ausente houve um acréscimo bastante significativo de atentados terroristas nestas terras. Consta que é normal isso suceder no mês que antecede o Ramadão, que aqui começou na segunda-feira. Que há atentados já o sabia, mas desta vez as coisas foram diferentes. A proximidade geográfica dos mesmos altera um pouco a ideia que temos dos mesmos. Sobretudo quando, desta vez, dois deles foram dirigidos ao Campo nº 4 do consórcio para o qual trabalho. No total neste momento, o consórcio é constituído por sete desses mesmos campos. O Camp 4, encontra-se a cerca de 80 kms do sítio onde me encontro, para os lados da fronteira com a Tunísia perto da cidade de Constantine. Durante dois dias seguidos, foi alvo de ataques. O primeiro, foi um ataque armado. Cerca de uma dúzia de terroristas armados atacarm com carabinas e metralhadoras o campo. Foram eficientemente rechaçados, não provocando grandes danos materiais, pela espécie de exército privado que nos protege. Balanço final, três mortos, todos eles terroristas. O segundo ataque, no dia seguinte foi diferente, talvez pela vigilância constante à volta dos campos verificou-se ineficaz pela distância a que aconteceu. A cerca de 100 metros do campo, explodiram dois carros armadilhados, provocando a morte de alguns terroristas. Talvez os próprios motoristas. Penso que um ou mais militares ficaram feridos. A informação é escassa, pescada e nunca dada de forma oficial. Penso mesmo que propositadamente escondem este tipo de novidade às pessoas que por aqui trabalham. Outros atentados houve, num deles morreram 43 pessoas.
Tudo isto criou alterações na minha rotina. A pouca liberdade que existia, mesmo contra as normas de conduta do consórcio, onde me arriscava a saídas nocturnas não autorizadas para saborear um jantar decente regado com um bom vinho argelino e umas heinekens fresquinhas nas entradas, seguido por um bom whisky à saída...acabou. Decidimos, enquanto a situação não acalma, reduzir as nossas saídas a motivos estrictamente profissionais. Contactámos a embaixada portuguesa, registando a nossa presença assim como os nossos números de telefone. Ando sempre com uma boa maquia de dinheiro no bolso, assim como os cartões de crédito e de débito. Somos três portugueses, dois no Camp 2, onde me encontro e o outro no Camp 1, a cerca de 60kms perto de Setif. Mantemos comunicação permanente, sobretudo se tivermos que fazer deslocações pouco usuais ou fora de horas.
So now, i'm really stuck at Guantanamo.
Passadas duas semanas, parece que estou aqui há dois meses. Voltei rapidamente à rotina, já é um sítio familiar, o meu quarto, as minhas secretárias (quarto e escritório), as pessoas. Não se sente o perigo... se surgir será sem aviso. De qualquer maneira, sinto-me bastante seguro. A zona onde me encontro não tem grandes registos de atentados. É um planalto, as montanhas onde se encontram mais terroristas estão bastante longe. Concentração no trabalho, manter a cabeça minimamente distraída e ir tentando encontrar um equilíbrio no meio disto tudo. No fundamentalismo e ignorância de um povo bastante fundamentalista. Na dificuldade de trabalhar com os japoneses que por vezes se mostram bastante inacessíveis. Lembra-me aquela música: " row, row your boat...safely down the stream..."
Sigo o meu caminho, neste rio tortuoso. Ciente de que chegado ao entroncamento, esta escolha foi minha. Para os que se preocupam e perguntam se não deveria sair daqui, não desisto. Se chegar um momento em que sinta medo de sair para executar as minhas funções, serei o primeiro a tomar a decisão de partir. Cumprindo sempre as minhas responsabilidades. Avisando a empresa para a qual trabalho e cumprindo o tempo estabelecido por contrato para encontrarem um substituto.
Cada vez mais acredito que as coisas não acontecem por acaso. Estou aqui por um propósito. Estou num processo de enriquecimento pessoal. Espero saber aproveitar da melhor forma as coisas boas que por aqui posso aprender. Condições adversas, falta de liberdade, privação quase total do que nós por aí tomamos como garantido. Desafio pessoal, desafio profissional.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Training sessions - Formação

Porque, apesar de tudo...
...há coisas que valem a pena
Assim como também há...
momentos...

mais complicados...mas muito engraçados! :)

Broas de Avintes

Abaixo de mim O deserto do Sahara! Onde estou o deserto de ideias!
Vantagens, aqui não se bebe de copos com detergente, porque não o usam mesmo!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Constantine

Constantine é neste momento a 3ª cidade da Argélia. Com cerca de 750.000 habitantes, é a cidade mais civilizada da região onde me encontro. Acabando por ser uma agradável surpresa no fim desta minha 1ª jornada de três meses. Pela limpeza das suas ruas, pela arquitectura, pela beleza de alguns dos seus monumentos, pelo leve aroma a progresso e liberdade.

O grande medo é a má língua, o que os outros podem dizer de ti ou da tua mulher. O que os pais podem vir a saber, mesmo que falso, ou meras impressões de quem está na rua sem nada para fazer. Uma espiral montada por centenas de anos em que o medo do olho público, do vizinho, amigo ou comerciante, está acima de tudo. Uma sociedade montada num esquema de auto-vigilância, onde o espaço para a liberdade, livre arbítrio ou comum socialização está banida para as mulheres!
Ontem vi na televisão, infelizmente só a parte final, de um excelente documentário sobre uma mulher argelina que emigrou para França e emancipou-se. Nesse mesmo documentário, relatos de mulheres da sua geração e também de gerações mais novas, com novas ideias. Mulheres que vivem presas dentro das suas próprias casas e debaixo das suas cruéis vestimentas.
O aroma do progresso é de facto leve, mas real! Este post é para essas mulheres, para as que não se liberaram e não viveram os seus sonhos, para as que devagarinho vão fazendo força para esse sonho ganhar asas e para as que, espero um dia, o poderão viver e concretizar!
Inshala!



Vídeo: jakk@hiddencamera
Music by: Chilled C'Quence - Growing seed

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A visita do Ministro

O ministro veio fazer uma visitinha ao "Chantier".Imaginem 200 km de bandeiras argelinas espalhadas por todo a obra. Um aparato policial, de agentes da secreta, de carros, de assessores, tradutores e ainda japoneses, indonésios e filipinos para dar as boas vindas. Chegam de repente, numa nuvem de pó! Saem dos carros todos apressados. Os militares quando olho em redor, estrategicamente distribuídos com as suas "uzis", todos a falar ao telemóvel e eu sem a minha máquina. O ministro chega perseguído por uma só estação de televisão, claro, a estatal!
Resumo, porque um acontecimento destes só resumido, se ficou 2 minutos a apreciar a ponte recentemente erguida e a plataforma de auto-estrada já construída foi muito. Entram todos no carro, que se faz tarde, e arrancam em grande velocidade.
Foi assim a visita do ministro, rápida... Mas que haviam 500 bandeiras para ele ver pelo caminho haviam...
A caravana passa, mas os cães continuam a ladrar!
Neste caso a uivar, de fome, de falta de emprego, de condições de vida, de saneamento básico. Que os milhões para a meia dúzia de projectos megalómanos de auto-estrada ( eu estou inserido num projecto que são 1100 km ), esses sim...vão ser gastos com certeza.

Viva o sr. ministro! Inshala tudo melhore! Que o senhor olha por nós!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Visões

Uma Argélia em construção em que todo o lixo é deitado para o chão, mas onde se ama verdadeiramente os animais!
Simples...os mais amistosos!
Retrato...um malaio na Argélia!

Formação, suporte e apoio técnico