segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Bejaia

Dia 1 vou até Bejaia, cidade costeira situada no Nordeste Argelino. Conhecida pelos seus bares e discotecas. Apesar de me deslocar em pleno Laid, dizem que estará tudo a funcionar.
Laid é a festa do pós-Ramadão, dura dois dias. será amanhã ou quarta que começa.
Os senhores vão hoje olhar para a Lua e decidir se amanhã já podem comer ou não!
Quando regressar, prometo descrição detalhada da viagem. Vai ser divertido, vou com uma escolta armada!!!!! This japs are crazy!!!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

TOP 3

Como já aqui estou há uns tempos e falei com certeza com mais de uma centena de argelinos, dou-me ao luxo de elaborar um top dos três portugueses mais conhecidos por estas bandas:

1º lugar: Cristiano Ronaldo

2ª lugar: Luís Figo

E num impressionante 3º lugar é com grande satisfação que anuncio, senhoras e senhores, meninos e meninas:

LINDA DE SUZA!!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

Liberdades

Como já referi em posts anteriores, perdi o meu motorista Nouredinne Sdrati. Personagem dos vídeos mais engraçados desta página. De 3 em 3 meses dá-se a rotatividade dos nossos "chauffers". Depois de fazer as minhas habituais pesquisas, tudo isto se deve ao facto de a admnistração não querer que se criem laços entre condutores e conduzidos. Uma pena, na realidade, e para quem realmente faz amigos o objectivo não se cumpre. Não só continuamos amigos do Nouredinne, como vamos sempre que podemos tomar um "tê" ou um "cahoir"( café - o h lê-se como um r não acentuado ). Amanhã vou-lhe emprestar a câmera fotográfica para tirar fotos dos seus filhos. Ofereci uma bicicleta à filhota de seis anos dele que foi a melhor aluna da 1ª classe da escola dela no ano lectivo passado. Outros presentes se seguirão. Quando somos afortunados com um bom salário ou qualquer tipo de riqueza, devemos partilhar com os que pouco têm. Penso que o dinheiro da bicicleta acabou por não ser para uma bicicleta. Terá sido sem dúvida para algo mais importante e de necessidade mais fremente. A sua família habita numa casa que partilha com o duas irmãs, uma casada, assim como com o seu pai. Ele tem um quarto na mesma, no qual co-habita com a mulher mais os três filhos. Não se consideram pobres. Tenho acompanhado a angústia dele no processo de candidatura a uma habitação social, na qual poderia viver só com os seus filhos e com a sua esposa. Já saiu a primeira lista de atribuições. O seu nome não constava da mesma. Nessa lista constava já outro Sdrati. Nunca duas pessoas da mesma família parecem na mesma lista, princípio igualitário deste governo Argelino. Não fosse o facto de o outro Sdrati ser irmão de outro Sdrati, o qual tem um bom cargo admnistrativo no Governo Local. Ça c'est la Algérie, l'Afrique, le Monde.
Agora ando com um bom rapaz, de 30 anos, que se chama Tarek Saf. Casado, com um pequeno filho e com o sonho de viver na Europa, onde já habita o seu irmão. Numa conversa de outro dia, falávamos do Ramadão, da vida, da Argélia...de tudo. Às tantas no meio da conversa, eu já gozava com ele a dizer para irmos beber uma cervejinha ao meu quarto e comer um belo naco de presunto. Fechávamos a porta e ninguém via. Rimo-nos os dois, isso seria impossível, muito mais sendo altura do Ramadão. Isso seria "aamar". Não sei se é assim que se escreve, mas não podia escrever só com um "a". Isto significa pecar. Às tantas diz-me que no fim de semana vai para uma barragem pescar. Passa lá todo o dia, apanha um peixe, tira-lhe o isco, volta a lançá-lo à água. Eu fiquei admirado, perguntei-lhe se não deveria passar o único dia de folga que tem com o seu pequeno filho e com a sua esposa. Ao que ele respondeu com um sorriso:
T: - C'est ça l'Álgérie!
J: - Então e a tua mulher?
T: - A minha mulher é livre...Senão "aamar", é livre.
J: - Então no fim de semana, está com a família, com os amigos...
T: - Amigos?? Amigos...não tem amigos?
J: - Não tem amigos????
T: - Não...vai ter com a família...
J: - Mas não pode ter amigos????
T: - Hmmm...não.... ( meio envergonhado, sorrindo ).
J: - Mas então que raio de liberdade é essa? " Mon ami, ça n'est pas être libre".
Sorriu, envergonhado, uma vez mais. eu sorri com ele abanando a cabeça a dizer que não. Seguimos em silêncio uns breves minutos...
J: "Tu aime ta femme?"
T: "Oui".
Sorrimos novamente, sem embaraço.
O irmão dele e a mãe vivem em Itália. Têm uma boa qualidade de vida lá. Andam a tentar arranjar um contrato de trabalho para ele conseguir um visto e assim se juntar a eles. Isto é um homem ao qual perguntei, que, se conseguisse ir para a Europa faria a mulher andar meia coberta. Ele respondeu que não.
Engraçado, no meu período de férias, apanhei só um pouco de um documentário que falava de uma mulher Argelina que tinha emigrado para França com o marido, penso que há mais de 20 anos. Essa mulher, divorciou-se, liberou-se e voltou à Argélia para ver como estavam as suas antigas colegas de escola. Do pouco que vi, registei uma que não podia sair de casa. quando o fazia sem o marido, não podia passar mais de 2 metros da porta de casa e não poderia lá permanecer mais de 30 a 60 segundos...
Aqui a PIDE são os vizinhos, as pessoas que comentam e desgraçam vidas só pelo facto de alguém andar de cabelo descoberto ou por ficar mais de um minuto à porta da sua própria casa. Isso desgraça o marido, os pais, os sogros, os irmãos e sabe-se lá quem mais. Mesmo com noções de justiça e liberdade... Não se pode permitir a vergonha do falatório alheio.

Censura

Não percebi ainda se foram os japoneses se é mesmo dos argelinos! Uma coisa é certa, links do youtube têm todos o mesmo resultado:
"This video is no longer available"
Vou investigar...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ponto de situação

Depois de quinze dias de férias, regressei a Tadjenanet, faz agora duas semanas. Cheguei doente e precisei de dois dias para me recompor. Prenúncio dos tempos difíceis que se aproximavam, os acontecimentos vão se sempre encaixando, por vezes só o vislumbramos ao olhar para trás.
A vida aqui ficou mais difícil. Nos quinze dias que estive ausente houve um acréscimo bastante significativo de atentados terroristas nestas terras. Consta que é normal isso suceder no mês que antecede o Ramadão, que aqui começou na segunda-feira. Que há atentados já o sabia, mas desta vez as coisas foram diferentes. A proximidade geográfica dos mesmos altera um pouco a ideia que temos dos mesmos. Sobretudo quando, desta vez, dois deles foram dirigidos ao Campo nº 4 do consórcio para o qual trabalho. No total neste momento, o consórcio é constituído por sete desses mesmos campos. O Camp 4, encontra-se a cerca de 80 kms do sítio onde me encontro, para os lados da fronteira com a Tunísia perto da cidade de Constantine. Durante dois dias seguidos, foi alvo de ataques. O primeiro, foi um ataque armado. Cerca de uma dúzia de terroristas armados atacarm com carabinas e metralhadoras o campo. Foram eficientemente rechaçados, não provocando grandes danos materiais, pela espécie de exército privado que nos protege. Balanço final, três mortos, todos eles terroristas. O segundo ataque, no dia seguinte foi diferente, talvez pela vigilância constante à volta dos campos verificou-se ineficaz pela distância a que aconteceu. A cerca de 100 metros do campo, explodiram dois carros armadilhados, provocando a morte de alguns terroristas. Talvez os próprios motoristas. Penso que um ou mais militares ficaram feridos. A informação é escassa, pescada e nunca dada de forma oficial. Penso mesmo que propositadamente escondem este tipo de novidade às pessoas que por aqui trabalham. Outros atentados houve, num deles morreram 43 pessoas.
Tudo isto criou alterações na minha rotina. A pouca liberdade que existia, mesmo contra as normas de conduta do consórcio, onde me arriscava a saídas nocturnas não autorizadas para saborear um jantar decente regado com um bom vinho argelino e umas heinekens fresquinhas nas entradas, seguido por um bom whisky à saída...acabou. Decidimos, enquanto a situação não acalma, reduzir as nossas saídas a motivos estrictamente profissionais. Contactámos a embaixada portuguesa, registando a nossa presença assim como os nossos números de telefone. Ando sempre com uma boa maquia de dinheiro no bolso, assim como os cartões de crédito e de débito. Somos três portugueses, dois no Camp 2, onde me encontro e o outro no Camp 1, a cerca de 60kms perto de Setif. Mantemos comunicação permanente, sobretudo se tivermos que fazer deslocações pouco usuais ou fora de horas.
So now, i'm really stuck at Guantanamo.
Passadas duas semanas, parece que estou aqui há dois meses. Voltei rapidamente à rotina, já é um sítio familiar, o meu quarto, as minhas secretárias (quarto e escritório), as pessoas. Não se sente o perigo... se surgir será sem aviso. De qualquer maneira, sinto-me bastante seguro. A zona onde me encontro não tem grandes registos de atentados. É um planalto, as montanhas onde se encontram mais terroristas estão bastante longe. Concentração no trabalho, manter a cabeça minimamente distraída e ir tentando encontrar um equilíbrio no meio disto tudo. No fundamentalismo e ignorância de um povo bastante fundamentalista. Na dificuldade de trabalhar com os japoneses que por vezes se mostram bastante inacessíveis. Lembra-me aquela música: " row, row your boat...safely down the stream..."
Sigo o meu caminho, neste rio tortuoso. Ciente de que chegado ao entroncamento, esta escolha foi minha. Para os que se preocupam e perguntam se não deveria sair daqui, não desisto. Se chegar um momento em que sinta medo de sair para executar as minhas funções, serei o primeiro a tomar a decisão de partir. Cumprindo sempre as minhas responsabilidades. Avisando a empresa para a qual trabalho e cumprindo o tempo estabelecido por contrato para encontrarem um substituto.
Cada vez mais acredito que as coisas não acontecem por acaso. Estou aqui por um propósito. Estou num processo de enriquecimento pessoal. Espero saber aproveitar da melhor forma as coisas boas que por aqui posso aprender. Condições adversas, falta de liberdade, privação quase total do que nós por aí tomamos como garantido. Desafio pessoal, desafio profissional.